sexta-feira, 21 de setembro de 2012


As crianças e a velha árvore
Há muitos, muitos anos que me encontro neste lugar. As minhas raízes estão fundas na terra e a minha copa alta ergue-se direita ao céu.
Na Primavera, quando os primeiros raios de sol me tocam, brotam as minhas folhas. Começam por ser frágeis e de um verde brilhante. Os meus ramos crescem e eu balanço-me suavemente ao vento. As crianças cantam e dançam à volta do meu tronco forte.
Os pássaros constroem os ninhos nos meus ramos, põem os ovos e chocam-nos. Assim, ficam protegidos da chuva e do frio. Pouco tempo depois, os novos passarinhos saltam para fora da casca.
As crianças ouvem os seus trinados e chilreios e olham para cima com expectativa. Estão ansiosas que os passarinhos aprendam a voar.
No Verão, o tempo fica quente. O sol, no céu, queima a terra e seca-a. As crianças rebolam pelo prado e depois descansam à minha sombra. Sobem pela minha copa acima e, quando se torna perigoso, faço os meus ramos ranger, como aviso.
Elas construíram uma cabana nos meus ramos e ataram-na com grossas cordas. Que bonito, terem-me escolhido a mim! Agora chegam até a passar a noite comigo.
No Outono, soltam os papagaios. O vento fá-los voar desenfreadamente, mas elas tomam cautela para que os papagaios não se aproximem demasiado de mim.
As minhas folhas brilham então com as mais belas cores: amarelo, vermelho e castanho. Quando as tempestades de Outono me desgrenham, tenho de as deixar cair. As crianças revolvem os montes de folhas, escolhem as mais bonitas e levam-nas para casa.
Por vezes, também vem ter comigo uma criança a chorar.
Aninha-se contra o meu tronco e conta-me as razões da sua tristeza. E assim fico a conhecer as inquietações que as crianças têm.
É Inverno. Aqui estou eu, despida. Apareço no meio da névoa como uma figura negra mas, quando ela se dissipa, vê-se o visco nos meus ramos. As crianças levam-no, e quando olho para longe, vejo-o pendurado na porta das casas.
Hoje caiu a primeira neve. As crianças estão todas entusiasmadas. Nas suas batalhas de neve tenho de servir de escudo. Elas divertem-se imenso e as bolas de neve não fazem mal à minha grossa casca.
Sob os meus ramos, fizeram um boneco de neve. Ali está ele de pé, audaz, com o nariz de nabo virado para mim, mas eu sei muito bem que, aos primeiros raios de sol da Primavera, o seu orgulho vai derreter.
Certo dia, um homem vem ter comigo. Mal passa a mão pela minha casca, reconheço-o. Esteve muitas vezes comigo em criança. Então fico a saber que já passou muito tempo.
Mathias Karl

Die Kinder und der alte Baum

Stuttgart, Thienemann, 1995

Tradução e adaptação

Pesquisa realizada por Elana Pereira.

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