sexta-feira, 28 de março de 2014

Super Interessante: A criança, o livro digital e o futuro da leitura.


Nesse tema há quem tenha dois posicionamentos, tanto quem defenda o uso de tecnologia para crianças, e quem diga que esse recurso é prejudicial quanto a Educação e possivelmente pode afastá-las dos livros, da leitura. Na Feira do Livro de Frankfurt, realizada em São Paulo, em Fevereiro deste ano, trata-se de conferência criada em 2012 para discutir temas como leitura, consumo e produção de livros digitais e vantagens e desvantagens do uso da tecnologia em sala de aula, esse ano trouxe um debate entre os ebooks, aplicativos versus o livro em papel, reforçando a importância da relação da criança com o objeto livro e com os mediadores de leitura. 

O debate foi tranquilo, mas cada palestrante deu sua opinião no que diz respeito desse tema tão abrangente. Mas, vale ressaltar o que disse Manguel, autor de Os Livros e os Dias e de Todos os Homens são Mentirosos, entre outros, se exaltou e disse: “Eu não sabia que faria parte dessa discussão a deformação do leitor defendida com argumentos comerciais, de vender este ou aquele produto. O livro não é um produto comercial. É nocivo que uma crianças de três ou quatro anos seja introduzida à leitura dessa forma, aprendendo a ler na tela. Aprender a ler é outra coisa”.

O jornalista americano Todd Oppenheimer, autor do livro The Flickering Mind: Saving Education from the False Promise of Technology, faria o papel de Manguel na Contec, não estive na feira, mas respondeu alguns questionamentos, em uma matéria na  Feira de Frankfurt debate o futuro do livro digital, confira:

Considerando o processo de aprendizagem e o desenvolvimento de consciência crítica, quais são os prós e contras do uso da tecnologia nas escolas e no dia a dia?
A internet é inegavelmente uma grande fonte de informação e com o passar do tempo só melhora e se enriquece. Mas seu surgimento aponta para um novo desafio que as escolas não têm prestado muita atenção: como avaliar com sabedoria a informação da internet. Computadores também podem ser boas ferramentas para despertar a criatividade – de novo, se usados da maneira correta. O problema é que a maior parte das escolas e dos alunos o usam do jeito errado. Nos primeiros anos, quando a experiência tátil é crucial, o uso é excessivo. Nos anos mais avançados (ensino fundamental e acima), os jovens deveriam aprender como os computadores funcionam, como programá-los, como construí-los, como consertá-los, etc. As escolas não fazem isso e simplesmente aceitam os computadores como sistemas de distribuição do que quer que esteja na moda ou de interesse comercial. É uma pena, e uma terrível ironia, já que o principal argumento para que haja computadores nas escolas é que eles ajudam a preparar o aluno para o futuro.

O uso de tecnologia nas escolas é irreversível?
Não acho que seja absolutamente irreversível, mas é pouco provável que diminua por enquanto. A longo prazo, porém, acredito que esse uso será menor. Isso, quando nós, aos poucos, formos percebendo a vasta gama de habilidades humanas que estamos perdendo e descobrirmos que estamos criando uma geração de autômatos que mal consegue ter relações pessoais ao vivo – e que geralmente tem medo disso.

Quais são os principais desafios para o sistema educacional na era da tecnologia?
O primeiro é preservar, nos jovens, a capacidade de concentração, a criatividade e o esforço pessoal (ao invés de esperar que as informações e a diversão cheguem prontos, num click, até eles). O segundo é preservar o interesse deles em outras pessoas (e não em aparelhos eletrônicos). Este último item será mais importante na próxima década à medida que nossas vidas se tornam mais multiculturais e cruzadas. O profissional de sucesso de amanhã será aquele capaz de entender outras culturas e capaz de resolver problemas com criatividade e baseado num profundo conhecimento de história, filosofia, antropologia, entre outras ciências. A tecnologia ajuda em algumas dessas habilidades. Mas a maioria delas requer leitura, conversa inteligente (cara a cara, e não tela a tela) e trabalho paciente.

Com relação à experiência de leitura, o senhor acredita que aplicativos funcionam como livros tradicionais? Eles deixam espaço para imaginação?
Depende do aplicativo. A maioria não porque acaba fazendo muito do trabalho que a imaginação humana deve fazer por conta própria, tornando, assim, a imaginação de um jovem preguiçosa e deficiente. Pense nos programas de rádio. Por muito tempo eles foram chamados de “teatro da mente” porque provocam a imaginação ao invés de preenchê-la. Bons audiolivros também fazem isso – e aí está a boa tecnologia, e um bom jeito de ler. Além disso, acredito que devemos ser cuidadosos ao deixar a tecnologia bagunçar muito com a narrativa tradicional. Há um motivo para que essa narrativa seja o método dominante de contar história desde que os humanos começaram a conversar. Muitos aplicativos prometem romper com o modelo tradicional com a ideia de que se tornarão superiores. Na maioria dos casos, essas inovações não passam de novidade. E essas novidades não duraram por um simples motivo: elas são complicadas – ou, mais frequentemente, são simplesmente chatas.

FONTE: O ESTADÃO

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